Lúpulo. Nome completo, humulus lupulus. É uma planta trepadeira, sensível, que cresce mais de seis metros, de origem europeia, onde se esbalda com o clima temperado e mais de 15 horas de luz na cara nos melhores dias.
Talvez você conheça o lúpulo como a florzinha, principal responsável pelo aroma e amargor da cerveja, que também leva malte, água e leveduras.
E o lúpulo brasileiro? Bem, até alguns anos atrás, falar de lúpulo brasileiro era como mencionar o curupira, o E.T. de Varginha ou a Loira do Banheiro. Pura lenda urbana. Porém, essa história (a do lúpulo) tem mudado gradativamente.
Nesta semana, chega ao mercado a german pils Braza Hops, da Black Princess, primeiro lançamento do Grupo Petrópolis feito com lúpulos 100% brasileiros, provenientes de Teresópolis (Rio de Janeiro) —o grupo é mais conhecido em São Paulo pelas cervejas Itaipava, Cacildis e Petra, que patrocina inclusive o cinema Belas Artes.
Não é exatamente a primeira experiência com a nossa querida trepadeira. Há séculos que imigrantes europeus fazem suas pequenas plantações. A brincadeira começou a ficar mais séria na região da Serra da Mantiqueira, quando uma fazenda conseguiu desenvolver uma quantia um pouco maior e fez parceria com a Baden Baden, de Campos do Jordão. Com o lúpulo Mantiqueira, a cervejaria chegou a lançar algumas experiências já em 2014. Em 2017, lançou uma marzen, estilo alemão. E no ano passado chegou a levar colaborativas experimentais para mostrar no festival Mondial de la Bière.
O lúpulo utilizado pelo Grupo Petrópolis, no entanto, teria sido o primeiro a ter o aval do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A plantação é uma parceria com o Viveiro Ninkasi e todo o desenvolvimento passou pelo Centro Cervejeiro da Serra, que pertence ao grupo.
“Já fazemos o cultivo desde 2018 em Teresópolis. A plantação começou pequena, com pouco mais de 300 mudas; agora já temos mais de três hectares destinados para o plantio do lúpulo, com mais de 7.000 mudas”, celebra Diego Gomes, diretor industrial do Grupo Petrópolis, que elogia todo o trabalho de Teresa Yoshiko, proprietária do viveiro, junto ao Mapa.
Apesar de comemorar a conquista, Gomes lembra que há muito a desenvolver ainda para o crescimento do plantio na região. “Duas universidades, além do Viveiro, estão trabalhando para fazer com que esse lúpulo se fortaleça a ponto de se tornar interessante para o microprodutor da região de Teresópolis. É uma região que já tem uma agroeconomia familiar”, conta.
“De acordo com dados da Aprolúpulo (Associação brasileira de produtores de lúpulo), existem aproximadamente 150 produtores associados, muitos deles com cultivares de origem americana como Cascade, Columbus, Yakima, Comet. No ano de 2018, o estado do Rio de Janeiro se destacou por apresentar valores acima de 9% de ácido-alfa (responsável pelo amargor da cerveja)”, afirma Duan Ceolla, autoridade em lúpulo e professor da Escola Superior de Cerveja e Malte, em Blumenau.
“Na última colheita, em março, tivemos a honra de receber na fazenda alguns alemães da região de Hallertau, na Baviera, maior área de plantio contínuo de lúpulo do mundo. Eles ficaram muito impressionados com a experiência da nossa colheita”, diz Gomes.
O diretor do grupo lembra que o caminho da adaptação da planta ao solo brasileiro não foi fácil. Historicamente, o lúpulo se dá bem em climas temperados, como o europeu, ou o americano (que teve resultados tão expressivos que criou uma escola cervejeira americana, muito a partir do desempenho singular da planta no terroir americano).
“Quando pegamos qualquer planta de um lugar e levamos para outro, ela leva junto a memória genética. Então ela tem uma tendência a ter um comportamento do lugar em que estava, e o tempo vai dizer se ela vai permanecer ou não do mesmo jeito. Se você tiver ao lado da plantação de lúpulo uma outra planta, ele absorve as características. O solo é importante. Estamos aprendendo muito ainda.”
O Grupo Petrópolis usa cerca de 350 toneladas de lúpulos por ano (a projeção é chegar a 380 toneladas em 2021), importados em grande parte de quatro países: Alemanha, Estados Unidos, República Checa e Austrália. A primeira colheita do lúpulo nacional rendeu 800 quilos. Portanto pode parecer ainda um pequeno passo para o mundo cervejeiro, mas é uma grande notícia para o humulus lupulus local.
O lúpulo da Braza Hops tem características mais herbais, de acordo com Gomes, o que casou muito bem com a german pils, estilo escolhido para a empreitada. Apenas na versão long neck, a cerveja tem edição limitada (são 2.000 unidades), e está sendo vendida com exclusividade pelo ecommerce do grupo (bomdebeer.com.br), por R$ 12,90.
Lohn faz lager com lúpulo catarinense
Outro lançamento recente com lúpulo nacional é Green Bally (barriga verde, em português), uma hop lager da cervejaria Lohn (de Lauro Muller, SC).
Nesse caso, são utilizados lúpulos do projeto Hildegarda, localizado na cidade de Lages, na serra catarinense, e dentro da Cervejaria Santa Catarina, do grupo Ambev. O rótulo foi lançado em agosto, também em edição limitada.
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